O Projeto Amaracaatinga é desenvolvido há dez anos no componente curricular Geografia sob a coordenação do professor Flávio Guimarães de Souza que tem como objetivo principal conhecer a diversidade socioespacial em geoambientes situados entre o planalto de Maracás e a Chapada Diamantina.
Bacia do Rio de Contas – Caverna da Mangabeira –Ituaçu -BA
Na sua primeira etapa quando o estudante ainda está cursando o primeiro ano do ensino médio há o estudo de um roteiro que envolve a depressão do Rio de Contas até a Caverna da Mangabeira no município de Ituaçu, com percurso que envolve além deste o município de Contendas do Sincorá e Tanhaçu.
O estudo tem como método principal a observação em campo e posterior descrição crítica das paisagens do trajeto, de modo que a produção socioespacial é compreendida a partir da percepção do espaço local, numa escala de contato entre o estudante e a realidade vivida com base na proximidade. Os povoados do roteiro, as pequenas cidades, as atividades econômicas, as propriedades rurais, a cultura popular e as dinâmicas socioespacias são percebidas pelos estudantes que dimensionam a partir de sua análise crítica desde o conceito de espaço, paisagem e lugar.
Há uma relação entre as atividades econômicas e a produção do espaço geográfico no ecossistema de caatinga predominante nesta área de depressão interplanáltica entre o planalto de Maracás e a Chapada Diamantina. Neste sentido, identificam-se as características físicas a partir de conteúdos discutidos em sala de aula como os aspectos geomorfológicos; socioeconômicas como é possível perceber desde as cidades e povoados do roteiro estudado; os impactos socioambientais que são resultados das atividades desenvolvidas e também a dimensão cultural a partir do turismo religioso na caverna da Mangabeira no município de Ituaçu, cujo foco é direcionado para uma análise mais reflexiva, tendo em vista que o local é tido como sagrado por romeiros que visitam a Gruta do Sagrado Coração de Jesus durante todos os anos.
Os estudantes do ensino médio tem a oportunidade de conhecer de maneira prática e teórica o potencial natural, social, econômico e cultural que permeia a caatinga a partir do município de Maracás até Ituaçu no sopé da Chapada Diamantina como áreas de caverna, vales de rios, falhamentos geológicos entre outros aspectos geomorfológicos. Acrescentam-se a tudo isso a dimensão social e econômica que está relacionada a estas áreas estudadas no roteiro
Bacia do Paraguassu – Chapada Diamantina
Na segunda etapa que abarca um período de três dias outros municípios são propostos para análise como já foram estudados Andaraí, Mucugê Itaetê, Barra da Estiva, Ibicoara, No ano passado (2015) o estudo foi resultado de pesquisa em campo com estudantes do 2º ano do ensino médio do Colégio Estadual Edílson Freire – Maracás – Bahia.
Com o título “Geoambientes e povoados na caatinga entre o Planalto de Maracás e a Chapada Diamantina: territórios de duas bacias hidrográficas” buscou-se conhecer os geoambientes e núcleos urbanos entre Maracás e Chapada diamantina na porção Sudeste. Para isso, realizou-se estudo de campo envolvendo um trajeto de 230 km aproximadamente, entre a cidade de Maracás, povoados de Juraci, Orobozinho (Iramaia-Bahia); Bananeiras, Colônia (Itaetê – Bahia); além das cidades de Itaetê, Mucugê até Ibicoara.
Desta maneira, em todas estas localidades foram realizadas observações e comentários a respeito do espaço em questão, destacando os principais aspectos que contribuem para a produção do espaço nestes lugares. Foram observados no trajeto os geoambientes que dominam a paisagem: caatingas, microbacias dos rios de Contas e Paraguaçu, estruturas de relevos como morros, serras, vales, riachos entre outros. Observaram-se também os impactos socioambientais no trecho estudado como, por exemplo, desmatamento, assoreamento, queimadas e processos de desertificação. Além disso, as atividades econômicas que aparecem dominantes no roteiro estudado, como pecuária, agricultura de subsistência, extrativismo vegetal para corte de madeira etc.
Os estudantes perceberam a importância do bioma de Caatinga como ambiente que predomina em todas as localidades do trajeto estudado. Entre outros resultados, foi possível entender a importância da caatinga para a manutenção da biodiversidade, de modo que as pessoas que sobrevivem nestes espaços criam fortes relações de identidade com a questão da terra.
É preciso, pois, fortalecer as políticas direcionadas aos residentes em ambientes de caatinga, tendo em vista as dificuldades pelo acesso a água, aos centros de prestação de serviços como saúde e educação de qualidade. Ao final, o estudante pôde estabelecer relações entre os aspectos teóricos e práticos, de modo que a aula em campo permitiu percepções concretas a respeito do tema estudado.
PROJETO O SERTÃO VAI VIR AO MAR – Maracás bacia do Jiquiriçá – Ilha de Tinharé – Gamboa e Morro de São Paulo – Cairu – BA
Este projeto é desenvolvido há 12 anos. A proposta de desenvolvimento de aulas práticas na disciplina Geografia coordenada pelo professor Flávio Guimarães de Souza visa interagir o estudante ao meio onde vive para que, a partir disso, possa compreender melhor as relações socioeconômicas e ambientais que se estabelecem no espaço geográfico.
Entre outros objetivos destacam-se: Estabelecer relações entre a importância da produção do espaço geográfico com as atividades econômicas associadas ao conceito de Região e Território; Descrever criticamente as principais atividades econômicas que conferem identidade regional a municípios situados na região do Jiquiriçá; Relacionar as principais atividades econômicas ao nível sócio-econômico do espaço em estudo; Identificar a relação existente entre os impactos ambientais ocorridos na área e a economia dos municípios em questão;
Alem deste podem relacionados também os seguintes: Enumerar os principais agentes responsáveis pelo desenvolvimento das atividades econômicas e a consequente produção do espaço geográfico; Compreender o espaço do turismo correlacionando ao conceito de região; Conhecer comunidades de pescadores, agricultores e extrativistas no vale do jiquiriça até a ilha de tinharé; Conhecer as vilas de Gamboa, Garapuá e Morro de São Paulo; Identificar a presença de diversas nacionalidades consumindo o mesmo espaço e associar ao conceito de território; Entender de que maneira o processo de neocolonização ocorre na Ilha de Tinharé; Reconhecer monumentos históricos do período colonial e a sua importância na formação do território baiano e nacional; Compreender a importância dos diversos ecossistemas desde a caatinga passando pela mata atlântica até as restingas e mangues
Os conteúdos trabalhados em sala de aula não podem em momento algum estar desvinculado da prática, haja vista a importância que deve ser dada ao seu significado na formação do professor. Assim, as aulas em campo possibilitam a vivência daquilo que se estudou em sala e aproxima o objeto de estudo do discente, construindo assim, o espaço propício à produção do conhecimento.
Torna-se, pois, de fundamental importância o desenvolvimento dessas aulas não somente porque tem uma finalidade conjugada à disciplina, mas principalmente porque permite ao estudante entender melhor a função da educação e da Geografia para a compreensão do mundo em que vivemos – ser ponte para a construção de um cidadão que conhece a sua própria realidade. Quando isso acontece cuida-se melhor do meio onde vive, convive-se de maneira interdependente e aprende-se a ser crítico em relação aos problemas que a sociedade vive, fazendo assim nascer possíveis soluções para os mesmos.
A isso, independentemente de outras referências, denomino trabalho de campo, uma e não única forma de construir conhecimento e de gerar atitudes e habilidades específicas do ensino da Geografia e, mais amplas, de formação social, pelo seu papel integrador uma vez que estimula relações afetivas e cognitivas, da mesma forma que desenvolve uma percepção apreciativa do espaço geográfico num contexto menos formal que o da sala de aula tradicional. Daí sua relevância pedagógica.
Texto – Professor Flávio Guimarães
Fotos – Matheus Lago