Beija -Flor e Paraíso de Tuiuti são as grandes vencedoras do Carnaval 2018

O Rio de Janeiro foi palco do mais polêmico Carnaval dos últimos tempos, apesar da grande dificuldade financeira e crise de segurança pública que assola todo o Estado, a ausência do poder público tanto municipal quanto estadual no gerenciamento do Carnaval, as escolas apresentaram ao público muita criatividade e protestos contundentes.  As duas escolas vencedoras utilizaram temas sociais e enredo com fortes críticas sociais que foram destaques em todo mundo, a Beija-Flor de Nilópolis é a grande campeã e a Paraíso Tuiuti levou o vice-campeonato do carnaval 2018 do Rio de Janeiro.

A apuração aconteceu na tarde desta quarta-feira (14), diretamente da Marquês de Sapucaí. A Beija Flor utilizou como tema o romance “Frankenstein” e fez uma associação direta as mazelas sociais brasileiras. Utilizando personagens teatrais, os temas atuais como corrupção, desigualdade, violência e intolerâncias de gênero, racial, religiosa e até esportiva formaram o cenário de “Brasil monstruoso”. A voz de Neguinho da Beija-Flor, o samba-enredo “Monstro é aquele que não sabe amar (Os filhos abandonados da pátria que os pariu)” foi cantado em coro pelo público da Sapucaí, que ao final do desfile ocupou a avenida, seguindo a escola. Veja a apresentação completa da Campeã Beija-Flor.

 

‘Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da pátria que os pariu’. Compositores: Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija Flor, JJ Santos, Julio Assis e Diogo Rosa.

Sou eu…
Espelho da lendária criatura
Um mostro…
Carente de amor e de ternura
O alvo na mira do desprezo e da segregação
Do pai que renegou a criação
Refém da intolerância dessa gente
Retalhos do meu próprio criador
Julgado pela força da ambição
Sigo carregando a minha cruz
A procura de uma luz, a salvação!

Estenda a mão meu senhor
Pois não entendo tua fé
Se ofereces com amor
Me alimento de axé
Me chamas tanto de irmão
E me abandonas ao léu
Troca um pedaço de pão
Por um pedaço de céu

Ganância veste terno e gravata
Onde a esperança sucumbiu
Vejo a liberdade aprisionada
Teu livro eu não sei ler, Brasil!
Mas o samba faz essa dor dentro do peito ir embora
Feito um arrastão de alegria e emoção o pranto rola
Meu canto é resistência
No ecoar de um tambor
Vêm ver brilhar
Mais um menino que você abandonou

Oh pátria amada, por onde andarás?
Seus filhos já não aguentam mais!
Você que não soube cuidar
Você que negou o amor
Vem aprender na Beija-Flor

A Paraíso do Tuiuti depois da trágica apresentação no carnaval de 2017 que foi protagonista de acidentes em plena avenida, deu a volta por cima e conquistou o vice-campeonato do carnaval 2018. Apresentando o tema mais polêmico com Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?” a escola foi a grande vice-campeã de 2018. A ousadia da escola foi apresentar críticas profundas as reformas neoliberais, incluindo a reforma trabalhista, a escola utilizou a desigualdade social e os desmandos dos políticos representado por componente que viveu simbolicamente o “presidente vampiro” do neoliberalismo representando Michel Temer. 

Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente

Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor

E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

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