Cupins constroem estruturas do tamanho do Reino Unido entre Bahia e Minas Gerais

Uma colônia descoberta por pesquisadores na região da Chapada Diamantina possui mais de 200 mil m² e ocupa parte da Bahia e de Minas Gerais. A colônia já é quase do tamanho de um país como a Grã-Bretanha, que possui cerca de 209 mil m². A Chapada Diamantina, que abriga grutas, cavernas, cânions, piscinas naturais, cachoeiras do país e elevações de pedra monumentais, guarda também essa “cidade” dos cupins que não está aos olhos daqueles que visitam a região, pois fica abaixo do chão.

Murundus na Região de Mato Verde em Iramaia

Com a vegetação fechada, os murundus ficavam escondidos, mas imagens de satélite revelaram a extensão das formações. Os pesquisadores não têm a lista das cidades por onde os murundus passam, mas na Bahia, eles ocupam o território de municípios da Chapada como Iramaia, Marcionílio Souza, Itaetê, Palmeiras, Lençóis, Mucugê e seguem pelo norte de Minas Gerais. O americano Roy Funch foi o primeiro a estudar o assunto, há 30 anos. Ele chegou à Bahia em 1978 para trabalhar como biólogo e logo ficou encantado com os murundus, que são torres de terra formadas pelos cupins.

O acúmulo de terra é resultado dos túneis que os insetos vão cavando pelo chão. “Para cavar esses túneis eles [os cupins] têm que tirar muito material, ao invés de espalhar eles jogam a terra em um só lugar. Eles ficam jogando esse material fora e não têm espaço de morada. Aí dentro é só área de despejo”, explicou.

Roy decidiu estudar sobre os cupins da região, uma espécie conhecida como bate-cabeça, e fez diversas descobertas como a dimensão do trabalho dos cupins ao longo do tempo e a idade dos murundus. “É um fenômeno único aqui da Bahia. São as maiores construções do mundo, fora do ser humano. Não tem bichos que fazem construções dessa grandeza em qualquer parte do mundo. A datação dos murundus tem idade de quase 3,8 mil anos”, contou Funch. 

Mato Verde em Iramaia

A paisagem rural em que se vê enormes montes de terra em meio ao mato não é incomum. Normalmente são morros da cor de telha, chamados murundus, formação do terreno que pode passar fácil dos três metros de altura e é muito comum em diversas regiões do Brasil. Você pode já ter ouvido falar deles como sinônimo para cupinzeiros, ou a casa de cupins, como se fosse a colmeia para as abelhas. Não é isso. Ao invés de ninhos, tais montinhos são apenas terra que os insetos movimentam enquanto escavam túneis subterrâneos, buscando folhas para alimentar a colônia. Ao invés de casas, então, murundus são resíduos de escavação de um enorme canteiro de obras debaixo da terra, que dão as caras na superfície.

Apesar de estarem sempre na vista, sua origem é, até hoje, alvo de discussões entre pesquisadores. Para alguns, tais deformações no relevo são fruto da ação física da água. Certos pedaços do solo, por terem concentração de metais mais elevada, seriam mais resistentes, sobrevivendo de pé à ação lenta da água moldando o relevo. Outra hipótese, por outro lado, argumenta que tais porções de terra seriam resultado da ação silenciosa de cupins, insetos que vivem debaixo do solo e são especialistas em cavar túneis subterrâneos. O trabalho desses pequenos seres revolvendo o solo, então, seria o responsável pelo fenômeno.

O biólogo Roy Funch foi quem propôs essa explicação pela primeira vez, em um artigo publicado em 2015 no periódico Journal of Arid Environments. Agora, em um novo artigo publicado na revista Current Biology, Funch liderou um grupo que estudou um tipo mais especial de murundu. Localizados na caatinga brasileira, entre os estados da Bahia e Minas Gerais, ocupam uma área de 230 mil de quilômetros quadrados, uma extensão territorial comparável à do Reino Unido.

Ao todo, são mais de 200 milhões de montinhos, regularmente distribuídos pelo espaço com 20 metros de distância um do outro, em média. Cada monte é formado por 50 metros cúbicos de solo e pode ter profundidade média de até 2,5 metros. Ou seja, os cupins precisaram escavar 10 quilômetros cúbicos de terra. Lendo assim, não parece muita coisa. Mas é uma obra grande. Faraônica, por assim dizer. Segundo os cientistas, esse total de solo seria mais que suficiente para construir 4.000 pirâmides egípcias, como a de Gizé.

O americano Roy Funch foi o primeiro a estudar o assunto, há 30 ano | FOTO: Divulgação

A analogia não é exagero, sobretudo se considerarmos a idade dessas formações. Analisando 11 amostras de terra do local, a pesquisa concluiu que os montinhos estão por lá há bastante tempo. Até 3,8 mil anos, para ser mais preciso. No artigo, os autores defendem que este fato tornam os murundus da caatinga brasileira o maior exemplo conhecido de ecossistema construído por uma única espécie de inseto no mundo. 

Fontes: Revista Superinteressante/G1BA

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