Documentário O Povo Brasileiro

Em “O Povo Brasileiro”, o antropólogo Darcy Ribeiro nos conduz pelos caminhos da nossa formação como povo e nação. Afinal, quem são os brasileiros? Que matrizes nos alimentaram? Que traços nos distinguem? A série é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro em linguagem televisiva. Os programas, de 26 minutos cada discutem a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro, depoimentos de Antonio Cândido, Luis Melodia e Antonio Risério, entre outros, e a participação especial de Chico Buarque e Tom Zé, os dez programas da série discutem nossas origens, nossos percursos históricos, nossos temas e problemas, nossas perspectivas de futuro. Em 1995, lendo os primeiros capítulos dos originais de “O Povo Brasileiro”, Isa Grinspum Ferraz sugeriu a Darcy Ribeiro (1922-1997), com quem colaborou por 13 anos, que contasse aquela história para mais gente, em programas de televisão. Apesar de já muito doente, Darcy aceitou a provocação e, por quatro dias, tornou-se ator de um grande depoimento sobre a formação cultural d’O Povo Brasileiro.

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Título: O Povo Brasileiro
10 Episódios | Duração média: 30 minutos cada.

Capítulo I – Matriz Tupi
Sinopse: “Brasil” é palavra que pertence à toponímia utópica dos tempos medievais, designando uma ilha de sonho, terra da felicidade imaginada. O primeiro registro que se conhece do vocábulo está numa carta náutica elaborada em 1325 pelo genovês Angelo Dalorto, ou seja: o nome “Brasil” já comparece em mapas quando ainda faltavam 175 anos para a armada cabralina avistar o Monte Pascoal. Com o tempo, a expressão passou a denominar o território atualmente brasileiro. E os primeiros grupos tribais aqui encontrados, pelos navegadores europeus, foram chamados “brasis”. Eram eles, basicamente, grupos do povo tupi, que então dominava quase toda a fachada litorânea dos trópicos brasílicos, estendedo-se aproximadamente do Ceará a São Paulo. O propósito deste primeiro programa da série é apresentar um panorama da formação sociocultural tupinambá-tupiniquim: a organização aldeã, o sistema de crenças, a antropofagia, as práticas agrícolas, as guerras e festas, os conhecimentos astronômicos, a trama do parentesco, a vida amorosa e sexual, em suma, mostrar quem eram aqueles canibais que circulavam, com seus mitos e ritos, pelos litorais da Terra Brasílica – e que, através da miscigenação e da didática dos trópicos, constituíram, com os lusitanos, a “protocélula” original de nosso povo: a protocélula luso-tupi.

Capítulo II – Matriz Lusa
Sinopse: Tudo começa quando Portugal decide organizar um programa nacional para explorar as fronteiras do Desconhecido. A figura-chave, aqui, é o Infante D. Henrique. A comunidade cosmopolita reunida em Sagres, sob o comando do Infante, sistematiza os conhecimentos técnicos até então disponíveis e parte para aprimorar a tecnologia náutica existente. Embarcações lusitanas começam então a se lançar a mares inexplorados pelos europeus, numa aventura cujo resultado será não só transformar a imagem do mundo, como fazer emergir a idéia e a realidade da Humanidade. O Brasil surge como um momento dessa Era dos Descobrimentos. Como ponte avançada da cultura neolatina, em sua variante portuguesa, na margem ocidental do Atlântico Sul. De início, a colonização extraestatal assistemática. É o período “caramuru” da história do Brasil: a aldeola mameluca de Santo André, com João Ramalho, ou a aldeia eurotupinambá de Diogo Alvares, na Bahia. Em seguida, o Estado avança: capitanias hereditárias, governo geral. O projeto de transplantação da cultura portuguesa para os trópicos. Novas tecnologias e novas ideologias, trazidas de uma região da Europa que, de uma certa forma, era um protótipo da América: séculos de miscigenação, séculos de convívio com a diferença.

Capítulo III – Matriz Afro
Sinopse: Negros da chamada civilização tropical africana aparecem como uma das principais vertentes do alados processo de construção da sociedade e da cultura brasileiras. Envolvidos no maior movimento de migração compulsória de que se tem notícia, em toda a história da humanidade, eles principiaram a chegar aos nossos trópicos ainda na primeira metade do século XVI. E para cá trouxeram, além do repertório genético, toda uma imensa gama de procedimentos técnicos e de criações simbólicas. Primeiramente, o tráfico de escravos foi feito sobretudo com a África subequatorial. É o fluxo dos negros bantos, vindos de regiões de Angola e do Congo. Mais tarde, parte do tráfico brasileiro se voltou para a África superequatorial, para a Costa da Mina e a baía do Benin, carreando para o lado de cá do Atlântico, principalmente para a Bahia e Pernambuco, povos ewê-iorubá, oriundos do antigo Daomé ou do poderoso reino iorubano de Oió. No programa A Matriz Afro deveremos exibir a força, o requinte e a riqueza desse conjunto de culturas negroafricanas, que fascinaram as vanguardas estético-intelectuais européias nas primeiras décadas do século XX.

O Povo Brasileiro – formação

Capítulo IV – Encontros e desencontros
Sinopse: Este programa será dedicado ao tema da gestação étnica de um povo novo – o povo brasileiro -, configurando-se num processo de mestiçagem permanente, desde o momento em que o primeiro europeu passou por aqui. De saída, a mistura luso-ameríndia. Os náufragos e degredados gerando filhos mestiços nas redes ou “inis” das cunhãs tupinambás. Nascem assim os mamelucos ou brasilíndios, espraiando-se por todo o litoral brasílico, para militar nas “bandeiras” ou formar núcleos habitacionais na orla marítima do Rio de Janeiro ou do Maranhão. Em seguida, os cruzamentos entre portugueses e negros e entre negros e índios. São os mulatos e cafuzos que vão se multiplicando pelo território conquistado ou em vias de conquista. Tais mestiços já não eram brancos, nem índios, nem negros. “O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da ninguendade de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se vêem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira”, sustenta a tese central de Darcy Ribeiro. Do plano físico ao espiritual, define-se aí de fato, e desde os primeiros tempos coloniais, a personalidade do Brasil como sociedade mestiça e sincrética dos trópicos, distinta das matrizes que lhe deram origem.

 

Capítulo V – Crioulo
Sinopse: “Chamamos área cultural crioula à configuração histórico-cultural resultante da implantação da economia açucareira e de seus complementos e anexos na faixa litorânea do Nordeste brasileiro, que vai do Rio Grande do Norte à Bahia” (Darcy Ribeiro). É o Nordeste do massapê, do canavial sedeando ao vento, das enseadas marinhas e dos rios, da vegetação exuberante, dos voduns e orixás. É, ainda, o Nordeste barroco, com suas igrejas de ouro, seus carnavais coloridos e estridentes, seus querubins. Culturalmente, este é o Brasil mais fundamente marcado pela presença de elementos, formas e práticas de extração negroafricana, especialmente depois da chegada dos jejes e nagôs, que souberam imprimir os seus signos na paisagem que aqui encontraram. Num extremo extranordestino, o Brasil Crioulo vai incluir o Rio de Janeiro. No extremo amazônico, a ilha de São Luís do Maranhão, com seus fortes traços afro-ameríndios, seu tambor de mina e seu bumba-meu-boi, ponto de passagem ou zona de transição entre a cultura negromestiça e a cultura cabocla que se estende para o Norte em meio a florestas e igarapés.

Capítulo VI – Brasil Sertanejo
Sinopse: Existem pelo menos dois “nordestes”. Um é o Nordeste litorâneo, que vai da Bahia ao Maranhão – Nordeste Crioulo. O outro Nordeste, nas palavras de Gilberto Freyre, é o dos “sertões de areia seca rangendo debaixo dos pés”, das “paisagens duras doendo nos olhos” das “figuras de homens e de bichos se alongando quase em figuras de El Greco”. Não é mais o Nordeste sedentário da monocultura latifundiária, filmagens mas o Nordeste da cultura do couro e do gado. Nordeste das ossadas esbranquiçadas e do azul sem nuvens. Nordeste de Antonio Conselheiro, do Padre Cícero, de Lampião, de Luiz Gonzaga. Nordeste da cultura sertaneja. Mas o Brasil Sertanejo não se circunscreve apenas a esta região. Vai do agreste aos cerrados, passando pelas caatingas. Penetra o Brasil Central, com suas atividades agrícolas e sua tradicional economia pastoril, a mestiçagem se dando basicamente entre brancos e índios, com fraca participação negra. Como bem viu Darcy Ribeiro, aí se conformou “um tipo particular de população com uma subcultura própria, a sertaneja, marcada por sua especialização ao pastoreio, por sua dispersão espacial e por traços característicos identificáveis no modo de vida, na organização da família, na estrutura do poder, na vestimenta típica, nos folguedos estacionais, na dieta, na culinária, na visão de mundo e numa religiosidade propensa ao messianismo”.

Capítulo VII – Brasil CaipiraAcesse AQUI!
Sinopse: Paulistânia. O que hoje costumamos classificar sob o sintagma “cultura caipira” é algo que começa a se esboçar em meio aos mamelucos paulistas dos primeiros séculos coloniais, que moravam em arraiais pobres e rústicos, praticavam a agricultura da “coivara” , falavam a chamada “língua geral”, caçavam índios e perseguiam quilombolas. Era uma gente que, embora envolvida pelo espírito mercantil, levava uma vida praticamente tribal, de forma e fundo tupi. E que, a partir da descoberta das nossas jazidas auríferas, espalhou-se de São Paulo a Minas Gerais. Quando os esplendores do ouro mineiro se reduziram a brilhos esporádicos, veio a estagnação – e mesmo a regressão – do Centro-Sul do país. Cultura da pobreza. Ö equilíbrio é alcançado numa variante da cultura brasileira rústica, que se cristaliza como área cultural caipira”. É todo um modo de vida que acaba por “esparramar-se, falando afinal a língua portuguesa, por toda a área florestal e campos naturais do Centro-Sul do país, desde São Paulo, Espírito Santo e estado do Rio de Janeiro, na costa, até Minas Gerais e mato Grosso, estendendo-se ainda sobre áreas vizinhas do Paraná” (Darcy Ribeiro). Basicamente “caipira” será, ainda, a cultura do café. E são os atos expressivos dessa área cultural, estereotipada caricaturalmente na figura do “jeca tatu”, que constituirão o tema do programa Brasil Caipira.

Capítulo VIII – Brasil Sulino
Sinopse: Aqui, não há como evitar o plural. Impossível falar, a propósito dessa área cultural, da existência de um modo de vida ou de uma visão de mundo. O traço distintivo do Brasil Sulino, no conjunto brasileiro de civilização, é justamente a sua hetereogeneidade. Se a região se distingue da totalidade das demais áreas culturais brasileiras – e já desde o início, pois aqui não se impôs a matriz tupi, e sim a guarani, que está na origem da figura do gaúcho -, a sua diversidade interna é também notável, indo da roda do chimarrão ao bilingüismo de núcleos populacionais ainda presos a matrizes européias. O programa Brasis Sulinos deverá mostrar tal heterogeneidade através da reconstrução da formação histórica e da exibição de desdobramentos atuais das três principais vertentes que compõem o panorama local: a vertente “mauta”, de origem principalmente açoriana, dispondo-se no trecho do litoral que segue do Paraná para o sul a vertente “gaúcha”, de base ibero-guarani e a “formação gringo-brasileira dos descendentes de imigrantes europeus, que formam uma ilha na zona central” (Darcy), onde ainda é possível encontrar o cultivo de tradições tipicamente européias e o emprego de um que outro idioma estrangeiro como língua doméstica.

Capítulo IX – Brasil Caboclo
Sinopse: Na área de floresta tropical da bacia amazônica, desenvolveu-se uma cultura de forte base indígena. “Toda a área era ocupada, originalmente, por tribos indígenas de adaptação especializada à floresta tropical. A maioria delas dominava as técnicas de lavoura praticadas pelos grupos Tupi do litoral atlântico, com que se depararam os descobridores. Em algumas várzeas e manchas de terra de excepcional fertilidade e de fácil provimento alimentar, através da caça e da pesca, floresceram culturas indígenas do mais alto nível tecnológico, como as de Marajó e de Tapajós, que podiam manter aldeamentos com alguns milhares de habitantes”(Darcy Ribeiro). Foram esses grupos indígenas que experimentaram a marcha da colonização lusitana, o avanço dos missionários, a disseminação do nheengatu e, ainda, a migração massiva de nordestinos à época do “rubber boom”, da explosão dos seringais. E assim foi se forjando na região uma população nova – e se cristalizando uma “variante sociocultural” da sociedade brasileira, com as suas formas e práticas próprias, e a sua religiosidade “fundada no sincretismo da pajelança indígena com um vago culto de santos e datas do calendário religioso católico”. É esta Amazônia interétnica, mas fundamentalmente cabocla, com os seus santos e “visagens”, suas cidades e seus grupos indígenas sobreviventes, que vamos abordar neste programa da série.

O povo brasileiro_capa (Global editora)

Capítulo X – Invenção do Brasil
Sinopse: A fantasia de que a nossa trajetória tem sido fundamentalmente pacífica, marcada pelo relacionamento cordial entre agrupamentos étnicos e entre classes sociais, não resiste ao menor escrutínio histórico. Na verdade, a história da violência nos trópicos brasílicos começa já com os conflitos sangrentos entre aldeias indígenas. Com a chegada dos europeus, as guerras se intensificaram, inclusive com alianças entre franceses e tupiniquins, combatidas por alianças entre lusos e tupinambás. E o fato é que a história do Brasil apresenta inúmeros (e sérios) casos de confrontos armados. Os negros foram o inimigo número um do sistema escravista, ao contrário do que se costuma pensar. Promoveram um rosário de revoltas rurais e insurreições urbanas, através dos séculos de regime escravo. Palmares e as rebeliões dos malês são pontos incandescentes desse espírito de recusa do cativeiro. Mas tivemos também outros gêneros de movimentações armadas, como a Guerra dos Cabanos e a de Canudos, com os seguidores de Antonio Conselheiro enfrentando o exército brasileiro. O programa Invenção do Brasil vai se concentrar, exatamente, nesta dimensão bélica de nossa história.

Título: O Povo Brasileiro
Sinopse geral: O documentário – O “Povo Brasileiro” é uma recriação da narrativa de Darcy Ribeiro e discute a formação dos brasileiros, sua origem mestiça e a singularidade do sincretismo cultural que dela resultou. Com imagens captadas em todo o Brasil, material de arquivo raro e depoimentos, a série tem conteúdo indispensável para quem quer conhecer um pouco mais sobre a história do povo do nosso país.

O Povo Brasileiro – Darcy Ribeiro. capa do documentário

Ficha técnica:
Idealização e Direção: Isa Grinspum Ferraz
País/Ano: Brasil – 2000
Série: Dez documentários baseada em obra de Darcy Ribeiro.
Co-produção: GNT e TV Cultura
Roteiros: Antônio Risério, Isa Grispum Ferraz, Marcos Pompéia
Produção Executiva: Zita Carvalhosa
Direção de filmagem: Flávio Frederico, Mauro Farias
Direção de fotografia: Adrian Cooper, Carlos Ebert, José Guerra
Direção de arte: Rico Lins
Direção de produção: Fernanda Senatori
Montagem: Idê Lacreta, Vânia Debs
Trilha Original: Marco Antônio Guimarães
Edição de som / Mixagem: Eduardo Santos Mendes, João Godoy
Coordenação pesquisa de arquivo: Stella Grisotti
Abertura: Rico Lins, Siron Franco
Narração: Matheus Nachtergaele
Participação Especial: Chico Buarque, Tom Zé, Antônio Cândido, Aziz Ab´Saber, Paulo Vanzolini, Gilberto Gil e Hermano Vianna.
Produtores Associados: Fundar – Fundação Darcy Ribeiro / Texto e Imagem.
Prêmio de Melhor Produção Cultural para TV, no Grande Prêmio Brasil 2000.

Depoimento: Darcy Ribeiro, filmado na cidade de maricá em junho de 1995.
Direção de filmagem: Rafic Farah
Direção de fotografia: José Guerra
Produção: Carolina Vendramini
Técnico de som: Guilherme Ayrosa

Fonte: www.revistaprosaversoearte.com

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