O município de Maracás, a partir do ano 2007, começou a receber os investimentos para implantação da monocultura do eucalipto em seu território e também em municípios vizinhos. A aquisição de muitas fazendas para produção dos eucaliptos por uma importante empresa do setor de mineração do Brasil, gerou muitas expectativas de crescimento econômico e possibilidade de emprego, mas passado uma década, os investimentos do setor não promoveram o desenvolvimento econômico e muito menos a geração de emprego e renda significativas para a população desses municípios.
As consequências mais efetivas foram a concentração de terras nos municípios em que o chamado “Deserto Verde” foi implantado e também os impactos ambientais provocados pela monocultura do eucalipto. De acordo com alguns autores a maioria das formas de eucalipto não é adequada para o controle da erosão, sobretudo por gerar insuficientes resíduos orgânicos (folhas e galhos) para cobrir o solo e por interceptar pouca água da chuva.
Os estudos de Davidson (1985) chegou a tese que ao substituir florestas nativas por floresta plantadas, é de se esperar maior escorrimento de água e erosão do solo (uma vez que, o índice de áreas foliar do eucalipto é relativamente pequeno, fazendo com que mais água chegue ao solo).
O autor também afirma que alguns tipos de eucaliptos, em áreas de baixa umidade como o território de Maracás e região, podem ter efeitos negativos sobre a vegetação local e até mesmo sobre plantas mais jovens da mesma espécie, oriundas da competição por água e nutrientes.
Poore e Fries (1985) afirmam que: Quanto mais rápido o crescimento de uma árvore, maior será seu consumo de água. Estima-se que faixa de evaporação e transpiração de uma plantação de eucalipto seja equivalente a precipitações pluviométricas ao redor de 800 a 1.200 mm/ano. Lima (1990) apresenta resultados experimentais semelhantes a esse (perda de água do solo em plantações de Eucalyptus globulus, ao redor de 750 mm/ano-estimado pelo método de avaliação do balanço hídrico do solo.
De acordo com as análises elaboradas, os impactos ambientais das florestas de eucalipto dependem, fundamentalmente, das condições prévias ao plantio, da densidade pluviométrica, do tipo de solo, da declividade dos solos e da distância das bacias hidrográficas. E também das técnicas agrícolas empregadas como densidade do plantio, métodos de colheita, presença ou não de corredores biológicos e atividades consorciadas.
De modo geral, criticam-se os efeitos sobre o solo com empobrecimento e erosão, a água com os impactos sobre a umidade do solo, os aquíferos e lençóis freáticos e a baixa biodiversidade observada em monoculturas. O regime hídrico da região influencia. De acordo com os artigos analisados, apenas em regiões de pouca chuva, abaixo de uma faixa de 400 mm/ano, o eucalipto poderia acarretar ressecamento do solo.
Existem fatores que causam certa cautela quanto ao plantio de espécies exóticas, em especial o eucalipto. Um deles é a falta de planejamento na hora do plantio, pois é preciso delimitar os lugares que podem ser plantados, respeitando, principalmente, as margens de rios, lugar reservado para espécies nativas, ainda é necessário que se dê o tratamento equivalente a uma cultura qualquer, com cuidados de adubação, controle de pragas e rotação de culturas.
Um dos problemas debatidos é o impacto causado no solo e um possível ressecamento. Alguns pesquisadores afirmam com veemência que o seu plantio é um problema que deve ser revisto para evitar danos maiores. Em sua obra Impacto Ambiental do Eucalipto, Walter Paula de Lima (1987) cita Jayal (1985) sobre essa perspectiva, a qual afirma que o eucalipto causa desertificação, pois demanda grande quantidade de água, retira nutrientes do solo e não os repõe e deposita substâncias químicas que prejudicam a reorganização do ecossistema.
Não obstante, e visto por esta ótica, os impactos ambientais deixados pela espécie exótica ficam mais evidentes quando seu plantio é realizado em grande escala, o chamado deserto verde, que acelera o processo de desequilíbrio ambiental, pois esta espécie é dominante e não permite crescimento de outra espécie, evitando a ocorrência de biodiversidade, fator fundamental para manter o meio ambiente em harmonia.
A implantação das florestas de eucaliptos no território de Maracás e região resultou em questionamentos sobre a concentração de terras e renda por uma única empresa que promove a monocultura extensiva sem nenhuma atividade complementar associada a produção dos eucaliptos. Outro problema crônico são as dúvidas no tocante ao seu efeito no meio ambiente, por esse motivo se justifica buscar estudos sobre alguns impactos negativos do eucalipto na região: como o ressecamento do solo, a exposição à erosão, depois de alguns anos a plantação é cortada, causando a compactação do solo, alteração na qualidade do ar, contaminação do solo e recursos hídricos, afugentamento de fauna e atropelamento de animais, provocando enormes impactos ambientais na região onde estava sendo cultivada a floresta.
Assista ao Documentário “Desertos Verdes: plantações de eucalipto, agrotóxicos e água”. Este filme foi produzido pelo Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia – CEPEDES. A partir de experiências vividas no campo por comunidades indígenas, quilombolas e camponesas no extremo Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo, completado por estudos de ativistas de ONGs e Centros de Pesquisa.
O filme faz um histórico e uma avaliação sobre a presença maciça das plantações de eucalipto e seus impactos. O documentário registra o impacto grave sobre água e, sobretudo, mostra um impacto que passa muitas vezes invisível nas regiões dominadas pela monocultura de eucalipto: o sistemático envenenamento dos solos e das populações, por substâncias químicas, os Agrotóxicos.
O documentário denuncia sua aplicação por avião no Extremo Sul do estado da Bahia que agrava o fenômeno que os mesmos não só contaminam o lugar onde são jogados, mas toda uma região porque são levados à grandes distâncias pelo ar e pela água.
Mais do que um documentário, este trabalho é uma necessária reflexão sobre o uso de Agrotóxicos, que são venenos, em grande quantidade na monocultura de eucalipto. Ao mesmo tempo, o filme espera motivar a todas e todos denunciar este envenenamento silencioso que ocorre no mundo inteiro onde estas monoculturas ocorram. É precisa também denunciar o atual modelo de desenvolvimento centrado no Agronegócio, do qual a monocultura de eucalipto faz parte, que está devastando o nosso patrimônio social e natural e determina como as pessoas adoecem e morrem.
Referência:
BARROS, CARLOS JULIANO, CAMPOS, ANDRÉ (COLABORAÇÃO) “DESERTO VERDE” – Os impactos do cultivo de eucalipto e pinus no Brasil. Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Santa Catarina, p.1-25, 2011.
VITAL, Marcos H. F., Impacto Ambiental de Florestas de Eucalipto Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V. 14, N. 28, P. 235-276, dez. 2007.