Luiz Gonzaga – O inventor do Forró

O Forró é ritmo típico da região Nordeste do Brasil que teve suas origens nas festas juninas. Estudiosos de ritmos musicais e até mesmo da cultura brasileira, dizem que não é simples definir qual o “estilo musical do forró”. Normalmente, é feita uma associação do nome forró a outros ritmos que são: xaxado, quadrilha e baião, também teria influência da população holandesa e da parte de Portugal, do xote. 

O termo “forró”, segundo o filólogo pernambucano Evanildo Bechara é uma variante do antigo galego-português forbodó, relacionando o termo a farbodão, do francês faux-bourdon, que teria a conotação de desentoação. O elo semântico entre fabordão e forrobodó tem origem, segundo Fermín Bouza-Brey, na região noroeste da Península Ibérica (Galiza e norte de Portugal), onde “a gente dança a golpe de bumbo, com pontos monorrítmicos monótonos desse baile que se chama forbodo”.

Os bailes populares eram conhecidos em Pernambuco por “forrobodó” ou “forrobodança” ou ainda “forrobodão” (nomes dos quais deriva “forró”) já em fins do século XIX. O forró tornou-se um fenômeno pop em princípios da década de 1950. Em 1949, Luiz Gonzaga gravou “Forró de Mané Vito”, de sua autoria em parceria com Zé Dantas e em 1958, “Forró no escuro”. O forró  popularizou-se em todo o Brasil com o talento de Luiz Gonzaga e sua música regional. 

A arte de Luiz Gonzaga teve a força de ultrapassar o aspecto puramente estético e musical, transbordando de seus discos para impregnar a identidade brasileira. Ao trazer o discurso, a musicalidade, os hábitos e a vestimenta do homem do sertão, o artista influenciou decisivamente na construção da identidade do povo nordestino. Foi Gonzaga quem incluiu a região Nordeste no imaginário brasileiro, até então dominado pelo Sudeste do país, ampliando as fronteiras da identidade nacional durante a era de ouro do rádio.

Até aparecer aquele sanfoneiro talentoso com a voz de “taboca rachada”, não havia distinção, para os brasileiros, entre as regiões Norte e Nordeste do país. Os habitantes dessas regiões sempre foram tratados genericamente como “nortistas”, identidade assumida até pelos próprios sertanejos, especialmente quando emigravam para o Sudeste.

Toda essa confusão, falta de conhecimento e a ausência de uma identidade nordestina reconhecível foram alvo da ação de Gonzaga ao transportar para o rádio e para os discos características típicas do sertão, transformando o Baião na música do momento e escrevendo um capítulo definitivo na cultura brasileira.

Quando Luiz Gonzaga sai do exército e ruma para o Rio de Janeiro,estabelece-se lá como um músico profissional, tocando as músicas mais em voga na época, como polcas, valsas e tangos. Certa noite, um grupo de estudantes cearenses que acompanhava a apresentação interpelou o sanfoneiro, incitando aquele músico a tocar as coisas da sua terra de origem. A provocação fez com que Gonzaga resgatasse sua experiência de infância e juventude tocando nas festas do seu interior e seguindo os passos do pai, lembrando daquelas músicas.

Com a composição Vira e mexe, um chamego, Luiz Gonzaga consegue chamar atenção pelo jeito diferente de tocar e pelo sotaque regional de sua música. Seu chamego tira nota máxima no programa de rádio de Ary Barroso, que promovia um show de calouros, e é contratado por uma gravadora e por uma rádio. Quando percebe que havia espaço para a música regional, e que a sua música era muito bem recebida, começou a encarnar a identidade do sertanejo nordestino e a se tornar a voz do sertão brasileiro.

À sua qualidade de instrumentista, Gonzaga foi acrescentando diversos outros elementos para compor não só canções, mas um tipo que resumisse a sua terra de origem, o sertão do Araripe. Trajando roupas de cangaceiro e de vaqueiro, falando com trejeitos do povo simples do qual ele mesma fazia parte, cantando temas e paisagens do sertão, o músico construiu um mosaico de referências que acertou em cheio o coração de migrantes nordestinos e agradou da massa de trabalhadores às classes abastadas com sua dança, melodias e carisma.

Em 1945, quando grava sua primeira canção com voz e conhece Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga já estava havia 15 anos longe de Exu, sua cidade natal. O baião foi gestado enquanto o seu futuro rei estava longe de casa. E foi exatamente quando fez sucesso com sua música e investiu forte no regionalismo que Luiz voltou para casa e reencontrou sua família, seu sertão, o gado, as casas de reboco, o seu pé de serra.

Para sintetizar suas influências e reforçar a nordestinidade do seu trabalho, Gonzaga começou a procurar por um parceiro musical que pudesse fazer letras para suas canções identificadas com a paisagem sonora que ele desenhava em sua sanfona. Encontra então Humberto Teixeira, advogado cearense também radicado no Sudeste do Brasil. O Velho Lua mostrou o que planejava, Teixeira topou e eles compõem então a primeira parceria, Baião. Os versos não deixam dúvidas de que eles sabiam que estavam criando algo: “Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião/E quem quiser aprender, é favor prestar atenção”.

Nos anos 1970, surgiram, nessas e noutras cidades brasileiras, “casas de forró”. Artistas nordestinos que já faziam sucesso tornaram-se consagrados (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino, Genival Lacerda) e outros surgiram. Depois de um período de desinteresse na década de 1980, o forró ganhou novo fôlego da década de 1990 em diante, com o surgimento e sucesso de novos trios e artistas de forró.

 

Fonte: http://especiais.leiaja.com/oinventordonordeste

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